16 de abr. de 2024

Inundação

 Tirando sonoramente o enferrujado das ideias
A poesia eu aniquilei
Enterrei fundo a 7 palmos do chão
Do chão que meus pés pisavam mas não sentiam
Joguei cal, botei pedras tudo pra esconder
O que eu achava que em mim havia de tirar
Era só um espelho que me fazia ver
hoje me leio e me vejo
O presente se faz através do passado que enxergo
E os traumas como retalhos carrego arrastando
sem cenzir, sem coser
o Chão que enterrei parte de minha alma
suja os retalhos de sangue, pó e barro
As vezes me vejo e os lavo
mas a água está turva, desfigurada
O rio que não flui, apodrece
Os prazeres, grandes barreiras
Criam limo nas pedras do meu rio
E quando piso para lavar meus retalhos
Tropeço, deslizo e caio
Na ilusão perdi o caminho
Da límpida fonte do meu ser.

Abro as barragens
A agua flui e me afogo
Retira e leva o que foi enterrado 
Quando o rio baixa
Afogado, encontro o cadáver pálido que enterrei
Está morto e isto é bom
No seu bolso há uma agulha
E ao olhar para as pedras sem limo
E para a água que começa a espelhar 
Não vejo nada do que restava de mim
Além dos retalhos, limpos
E uma linha 
Vou cerzir novamente
Ouvindo as águas do rio que me corre




3 de dez. de 2019

só não li tudo isso que escrevi

Eu não leio mais literatura, já tem história demais nesse mundo. A ficção permeia todos os espaços, eu abro esta tela a qual costuma escrever algumas palavras e hoje leio várias histórias por dia. Leio histórias sobre o que disseram os governantes, leio histórias de como eles pretendem resolver suas questões. Leio histórias sobre as coisas que acontecem, as espécies que foram dizimadas, os rios que não servem mais para banhar a cara, sobre rios que não pode tomar banho que entra um peixe no pinto, sobe um rio que tem uma mulher com um rabo de carpa, sobre um cavalo marinho que o macho cuida dos filhotes na sua fase de encubação, sobre as montanhas de plástico nas barrigas dos cetáceos, leio a incrível jornada de pessoas pra buscar cravo atravessando oceanos imensos, e também os que foram buscar o que tinha pro lado de cima ou pro lado de baixo e descobriram gelo e água, e ursos brancos e baleias gigantescas, leio que descobriram que as vezes esquenta e às vezes esfria, descobriram que se queimarmos bastante coisa ao mesmo tempo vai esquentar, descobriram que se colocarmos a carne no sol ou na banha ela se conserva um pouco, descobriram que existe uma filosofal que transforma cobre em ouro e hoje tem várias filosofais , e também leio que acharam um líquido viscoso nos recônditos do planeta e ele é bom de fazer combustão, e sobre a situação dos que buscam água longe de casa, e dos que vivem em lugares que não chove, e também li sobre lugares que choveram quatro anos, onze meses e dois dias, sobre lugares que sairam navegando e sobre lugares que existiam embaixo d'água e agora leio que existem lugares no céu e nas estrelas e li que tem um vivente que quer ir pra marte, li que as formigas podem fazer tuneis kilométricos e que as abelhas dançam umas para as outras, os golfinhos se gritam e conversam e já tem espaçonaves a muito tempo, li também que a gente morre e vai pro ceu, li que a gente não morre, li que a gente morre e volta mas não se lembra, li também que tem gente que morre volta e lembra, e sobre gente que não quer ir, li sobre vários que escolheram ir e li também o que eles deixaram escrito, sobre quantas cargas tem um eletron e quais as multas que algúem irá pagar caso erre de determinado jeito já li, e quando descobriram outro jeito de viver eu li, e tambem li sobre como achar o melhor jeito de viver no lugar que a gente mesmo vive, li que tem bastante gente viciada em bastante coisa, e li que somos grandes mariposas com grandes olhos e li que tem gente acha que a gente tem que cortar as arvores transformar em garimpos pra tirar da terra o que tem dentro do smartphone e dessa tela de computador aqui.

13 de fev. de 2019

Ah se eu fizesse poesia
Escreveria assim sem maestria
As coisas que tem a mim
Das juras que não tem fim

Ou falaria sobre o campo
E florestas matas e rios
Onde velas sem pavios
Encontram o próprio canto

quiça assim seja perfeito
Escrever em linhas repartidas
Uma parte em cada peito
As palavras comprimidas
Mostrando que está lá fora
Mas que vive aqui agora
Nesse ritmo ditado
Nada foi agendado
Nem é programado
Nas asas daqui do chão

29 de jan. de 2019

Compartilhando

O gosto de escrever pra ninguém ler
O jeito de ser pra ninguém ver
Tudo o que tá dentro
poderia estar fora
tudo o que está fora
foi gerado dentro

Adictos em compartilhamento
Já estão com os aplicativos
Atualizados dentro de si

Chamando a atenção para si do que não é
Esquecendo a atenção de si mesmo para cultivar, lubrificar
O submundo do que não és
Pois o que sou não é a imagem
Pois o que és não é a ideia que fazes de si
e mostra
realidade
Repaginada
Reprogramada

Através das redes,  eu's que esqueceram de serem eus
egos procuram sublimar-se propagando-se
E lutam contra imagens
De vidas melhores
De gramados verdes
De praias azuis sem areia
Numa mentira Numa ilusão
E aceitam as mentiras
E aceitam as ilusões

Não são felizes pois não são o outro
A vida propagada através de bits sequenciados
através de conversas sem fala
abraços sem corpo
brigas sem olhos.

a ilusão substitui o sol
os livros foram todos queimados
fiquemos com os blogs
e os escritos que só fazem sentido para quem os escreve




21 de jan. de 2019

O elo, a risada

Das sombras que faço minhas por não saber medi-las, deduzo um caracol de emoções.
O osso do peito se parte
A dor do romper não é tamanha a do ficar
O ficar dói, o romper dói
O romper dói mais
Mas o ficar traz as sombras que minhas não são
e o romper a esperança das dores,
as minhas
e as tuas
saradas
Por mais que o partir doa e machuque
Todos os momentos e energias
Todos os sonhos e desencontros ,eles ficam por hora
Gravados na mente no jeito e na risada
Ainda que seja a risada a ficar
Parecida
Idêntica
Singular em dois mundos
Dois mundos que queriam ser um
Ora aquartelados numa bolha
Sonhavam viver o mesmo sonho
Mas os medos, maiores que os sonhos,
confundiam sonhos com sombras.
A risada , a mesma, permanece, impávida
Separados, rirão o mesmo riso
E o risonho riso doerá...


até não mais doer.



28 de mai. de 2018

Ocasionalmente as andorinhas do têm de migrar do norte, esfria, o frio para elas é um problema vital. O mesmo frio que sentem os ursos e a preguiça e a preguiça
A preguiça entra nos poros e atinge superfícies importantes nos feixes de energia. Um desvio da fibra dessa eterna convecção energética corporal causa inúmeros problemas no material corpóreo. Ou ainda a preguiça pode ser vista como a consequência das transmissões energéticas deficitárias. A energia que é produzida pelo corpo é irradiada ao seu redor, pois nada se cria nada se perde tudo se transforma, e transmuta a realidade. A preguiça torna-se preguiça por sutis calos energéticos que impedem a vazão irradiativa dentro dos feixes delimitados fisicamente pelo material corpóreo, esses calos são um espaço, uma nódua de inércia negativa, estagnando os fluxos, e isso tende a gerar mais calos, causando mais preguiça.
Conhecem-se diversos modos de desenrolar essa nodoeira, em tentativas de melhorar o fluxo e todas elas demandam um bom período de tempo e é amplamente facilitada se o trabalho maior for realizado pelo próprio portador do nó.
Há meios de feixes externos, que formam ou não um corpo, retirarem essas nódoas através da própria irradiação, e o tempo também é preponderante. Para efeitos mais imediatos os materiais corpóreos através de seus feixes de energia devem despender grande carga para o desnoze. É uma manobra perigosa que demanda grande poder, se a energia não for suficiente elas podem sugar parte do nó, e não transmuta-lo.
Os feixes energéticos não corpóreos desatadores se encontram cada vez mais escassos devido a um poderosa malha energética não-orgânica que forma inúmeros de bloqueios energéticos, e são desconhecidos para as palavras contidas aqui neste local.
A forma autosuficiente de acabar com a nódoa de forma imediata é sim um grande espetáculo. È o principal gerador de acontecimento não casuais e pode transmutar em todas as dimensões. Feixes mais brilhantes tendem a remover quase em sua totalidade os calos, tornando-se grandes causadores de fenômenos. Feixes ainda mais brilhantes transformam os nós em reservatórios para manter níveis vitais de energia ou para explosões energéticas direcionadas.  Porém, sem o devido direcionamento a forma imediata pode ocasionar rupturas na vazão e acelerar os processos de perda energética
a preguiça é só um detalhe.


8 de mar. de 2017

Sob a luz da lua a um abraço os dois sós pertenciam. O abraço os deixava invisíveis e os fantasmas que perambulavam por ali não os enxergavam. Os fantasmas eram terríveis mas também não eram nada. Suspiravam pra não perder o fôlego enquanto o mundo permanecia parado. Quando desfizessem o abraço, os fantasmas os levariam para longe. Sentiam que aquele era o último abraço.

26 de jun. de 2016

nem tudo é rosa

Isso e escrito de forma pálida
Escrito escritorio romeu labuta
Agradece a d eus mia conduta
Juros com furos deviam cobrar-se
De uma forma justa e válida
Quem dirá que me diga
Como que o sem papel
Vai entender o tal roteiro
Translucida rotina, desatina
O si só se basta quando bastou
Mas o bastão que segue trilha
Nao sabe mais
Escapar dos espinhos

15 de fev. de 2016

Essas sublimes palabras
Destas daqui quem lê
Ingomias tal qualquer
artefato de triunfo
Chocam-se com a realidade
O que nâo se toca
E o que não se vê
Brotam num submundo
Touchscreen





20 de dez. de 2015

cada um é cada qual

de cada um desses
um de cada de um de nós
uno solo deste es sólo un
dois são dois e tem um
e tem outro
um e outro são um e são dois
e dois que são todos
todos de cada um
todos também é um
quando um e outro
e mais umoutro
onde cada um é um e
cada outro não é um
todos são um
e cada um é cada qual.


15 de dez. de 2015

Não alcanço o que busco se me estico pouco. Se não distendo os meus tendões e músculos, aqueles todos que compõem essa carcaça, do pé a cabeça, não logro sucesso algum. Por menor que for a necessidade é natural que falhe miseravelmente caso não houver toda essa esticação. Sei dessa realidade e todas as minha consciências, despertas ou não, sãs ou não, sabem, e quando na discreta teimosia insisto em não me esforçar no estendimento, malemal arranho, quando muito, o que quero. Na ânsia do solucionamento quem conhece esse fato já imagina, com tanto esforço o corpo todo deste vivente é elástico, põe o pé na cabeça e o joelho na nuca. Pois ora pro nobis quiçá o mundo fosse perfeito, e as pessoas fossem dispostas despreguiçosas e antenadas, não alcanço nem o dedão na mão no dedão do pé quando to de pé...

1 de nov. de 2015

piado do saci

Tais esperas que me trago:
espessos muros de barro
cobertos impermeáveis 
da chuva não sabem não
são lisos que nem jacu 
mesmo os dos mais enrugados
tais galinhas voadoras
sossegam-se em pios não canários
que o muro é grosso
e tem chapéu largo
não deixa passar não
no muro tem uma janela
uma porta tem também
ortogonal tem outros muros
de terra crua grossa e coisa e tal
jururu são os vizinhos
jabuti,  jaraguara, bem-te-vi araguara
um rio de oxum, cachoeira
e um mato ali atrás 
quem tem até curupira.

27 de jul. de 2015

Salvação pela Macrobiótica

Fritou primeiro as cebolas depois de copiosamente chorar para corta-las, aproveitou as lágrimas que lhe rolavam pra rolar mais lágrimas que não eram das cebolas, mas sim do riso choroso que há dias lhe acompanhava numa êxtase emocionada. O alho que fedentina seus dedos pra todo o sempre já exala seu odor sudoríparo ao ser levemente frito no fogo azul brando em companhia dos prismas cúbicos das cebolas. Todas suas atenções se voltam pra manter o ínicio da concepção do refogado enquanto a mente vaga pelos recônditos das suas lembranças passadas que são constantemente refletidas para um imaginado futuro cheio de bem feitorias para o personagem que retrata-se nesse relato. A cenoura já ralada por uma ferramente contemporânea concebida de polipropileno e metal ganha suas vezes de ir ao quente habitat que rotineiramente tem as honras de ser o altar da geração de reuniões de diversos ingredientes que juntos formam algo, que os humanoides da época em que funda-se esta história é chamado de 'comida' ou até de 'prato',  apesar do prato em aqui em questão  não tratar-se do utensílio de porcelana usado para fazer a separação do alimento pro resto do mundo bacteriológico, mas sim da junção dos ingredientes previamente colhidos e manejados até a mão do ser que fará a coesão de todos esses diferentes sabores para a concepção de um trabalho que, mesmo com a possibilidade de seguir uma receita pré concebida, invariavelmente não será idêntica uma à a outra por nesse caso se tratar de um agente misturador faminto, também em vias mais ortodoxas pode ser chamado de cozinheiro, que não se afeiçoa muito em padronizar os pesos e medidas dos ingredientes. O prato então, já ganha ares de refeição devido primeiramente ao cheiro que já engolfa as narinas que alcança e à cor amarela alaranjada que as bençãos da cenoura trouxeram. O manufator então, com o poder do controle do fogo que as glórias do século XX trouxeram com o advindo da máquina fogão e da grande expansão mundial da retirada dos combustíveis fósseis da profundíssima crosta terrestre que ao fazer-se trabalharem em conjunto, trazem a salvação  de um n números de estômagos, sendo eles de faceta humana ou canídea ou felina, e apesar dos dois últimos serem acostumados com os restos provenientes da saciedade dos bípedes sentem-se aparentemente  felizes e cheios de gratidão por participarem desse importante processo cíclico de combate à fome. Antes da divagação e também por causa dela partindo-se do fato que a relação do agente cozinhante com o agente cozedor é bastante íntima sendo um ato mentalizado do primeiro torna-se facilmente absorvido pelo segundo agente a partir de um processo de interação física multi-macrocelular, o controlador o chefe o cozinheiro em sua semi plenitude mental e com o auxílio de uma interação intra neural decide-se por abrandar o fogo, pois o tempo cronológico concebido pra padronização dos seres pensantes não tem controle sobre todo esse feitio aqui relatado, devido à falta de compromissos posteriores. Por isso e pelo fato das abobrinhas ainda não estarem devidamente descascadas por ausência de uma terceira figura na história, com pode-se ver só há duas, o mestre manufator e o tal do narrador, faltando uma criatura responsável pela preparação do alimento pra uniformização da sua estadia na panela ou citando no bom e velho portugues, alguém pra picar as parada. Então no sagrado local em que se encontra o único dos personagens, os alhos a cebola a cenoura e a abobrinha apesar da inegável importância no contexto aqui descritos não são contempladas com o título de personagem devido à incapacidade dos mesmos em conduzir o seu destino, servindo apenas como ferramentas vivas para a locupletação de uma meta, um fim que talvez suas deduções vegetais compreendam e até aceitem por ser parte indelével de suas vidas, assim como foi a dos seus antigos antepassados que já reconheciam que é melhor servir de alimento que viver uma vida em vão, é claro isso tudo trata-se de uma dedução positivista da aceitação dessas verduras (aqui uso de liberdade poética, não se trata de verduras, no uso requerido elas sequer são verdes) do seu destino imageada por um intelecto que não sabe como é viver a vida das cenouras mas quer acreditar que elas benfazem-se nesse uso egoísta, pois então, mesmo não possuindo um viés de personagem, sob um fogo que antes era feroz e agora já é brando as cenouras alhos e cebolas põe-se a estalar e a chiar levemente, como se arrependessem de nascer o que são, reclamando discretamente e numa atitude bastante rebelde começam a querer aderir à panela que as coze. Triste seria a sina do cozinheiro se ao cortar as benditas abobrinhas em seu silêncio assoviante não escutasse tal gemido chiador que amplifica-se pelas curvas da panela, mais triste seria se não soubesse interpretar esse grito corriqueiro do processo aqui destilado, surpreendido seria por vegetais carbonizados, o que tornaria o dia do personagem muito ingrato, padeceria de fome pelo seu paladar não estar compatibilizado com carvão. Mas como esse ser, se não é penteado nas artes da culinária ao menos é sabedor de algumas nuances importantes, conhece inclusive muito bem esse barulho inconfundível da fritada e sabe lutar contra isso. Com o auxílio de uma ferramenta peculiar que possui uma tromba mas nem de longe parece-se com um grande mamífero o personagem coloca mais uma variável na equação comida: o solvente universal, a água. Há muito o que citar sobre esse importante recurso mundial e por que não universal, mas devido às altas taxas pluviométricas da região não haverá aprofundamento de tal questão, por óbvios medos de afogamento, cita-se apenas que devido à experiência do agente cozinhante a quantidade de água que passa a participar da feitura da benção alimentar não é grande, servindo para matar a sede apenas no caso em que ela aparece muitíssimo pequena. O acréscimo dessa ínfima parcela de rio acalma os afoguentados ânimos dos cozidos, e a ampliação das suas relações com o acréscimo da abobrinha já devidamente picoteada não trará novas gritarias de fritura, devido à umidade com que o último não-personagem trouxe ao relato. Essa é a hora então, que todos os ânimos se acalmam, a panela completa-se ganhando uma tapa que perfeitamente encaixa em sua bocadura, e todos os (as) personagens têm tempo de matar a sede da tradição sugando a gloriosa erva que misturada e preparada com água quente é essencial na vida dos que assim o querem que seja. E eis que chega o momento em que todos caem na armadilha da própria vaidade, por amor do próprio ego do paladar e do olfato o mestre cuca começa a praticar sua magicka bruxaria. Alecrim, Manjericão e Manjerona, três substantivos próprios que conduzem o ser humano ao pecado da gula e ao amor infinito a esses dois orgãos não opostos mas sim complementares, o nariz e a língua. Sorrisos esvaem-se e até gargalhadas podem ser soltas nesse novo panorama que vive-se nesse ambiente antes perfumado mas não tanto quanto agora, em que as benção de Pachamama entram em verdejantes formas pelos narizes e não saem mais. É nesse abençoado - usando de uma expressão mais popular e adorada pela geração do novo império - feeling, pode-se usar até mesmo ''vibe'' o que não seria de todo ruim, que o trabalho continua. Chega o momento da cuidadosa esfolação dos vermelhíssimos tomates que se verão despidos de sua carapução exterior, sua pele que cria uma digníssima fronteira entre seu interior e o resto do universo desconhecido, devido à planos superiores do mentor disso tudo que deseja não ver o tomate em sua comida. Não que seja haja uma rixa com tal fruto ou indisposição ao vemelho de sua pele o coccinero está é interessado no bendito molho que tal fruta libera ao ser exposta às quentes, porém brandas, chamas que fornecem energia calorífica ao recepiente advindo de alguma das revoluções industriais do qual não entraremos em méritos maiores. Agora já há água em abundância na panela, mais água que certas cidades que lambem a imaginária linha do equador recebem dos céus em certas temporadas, a abobrinha quase inexiste, o que dirá da cebola que cada vez está mais virada em molho e do alho que deixa só se torna visível por um complicado processo sinestésico e por isso em decreto amplamente aceito por todos os eus que compõem o ser que aqui transforma duros vegetais em deliciosas refeições a tampa deixa de ser necessária. A hecatombe sensorial chega com mais força, a peia sofrida pela fome agora entorta as orelhas do envolvido graças à bela composição do batalhado, porém não suado, 'prato' que já está em viés de começar a deixar de existir, a mesa do jantar já está posta, o garfo colocado devidamente ao lado do da tigela redonda que também gostamos de chamar de prato, a salada devidamente não temperada, anteriormente esquecida neste relato por não sofrer o processo de cozimento tão aclamado já faz suas últimas preces pois de relance imagina o seu fim, ou a sua transformação em energia para a sobrevivência de um ser com maior mobilidade neste mundo, encontra-se deitada em berço esplêndido em outro prato projetado de última hora para abriga-la. Diagnosticado o sucesso dentro da panela o corta-se o gás que alimentava o fogo azul e as bolhas que saltavam por entre os participantes da junção alimentar já diminuem consideravelmente a intensidade das suas ocorrências. Pega-se a última ferramente necessária para a completa deglutição que só é estritamente necessária devido à necessidade de contemporizar a sua existência e que terá a leve responsabilidade de levar a comida da panela até o prato: chamam-na colher. Agora sim, sentado defronte a mesa  com o preparado já servido ao prato do lado da salada há a primeira observação do conjunto da obra. Vê-se que é bom é bonito. Come-se. Sente-se como já pode ler-se que o sal foi esquecido.

18 de jun. de 2015

céu torpor

fortuitamente
furto balões
pra ré voar por aí
vazo galões pra esparramar
por si
como jogadas de corpo
no espaço do nada
destroem as correias no céu
  que despenca
    engolfando

22 de abr. de 2015

e eu não mais existia
vivo então 
mas sem eu mesmo
não eram meus
os olhos que fechavam a noite
o sorriso que despontava a manhã
o ar que aperta o peito
as estrelas da madrugada
o canto paciente da coruja
e a coceira
no calcanhar.