21 de mar. de 2014

caveiras sorridentes

piso no quente e denso
mar de lava fria esquálida
aço frio firme e tenso
segurando nossos corpos dependurados

somos apenas ossos
a carne desfez-se em tolices
até pensamos em salga-la
servir num belo churrasco
com as famílias os amigos e a maionese

mesquinho ninguém mais é,
os anéis dos dedos;
sobram hilariamente na ossada,
já não empunham espada
há muito se livraram dos medos
e seu êxtase enternecedor embasbacou-se
a plenitude teria cheiro de mel
seu sonho é o mundo
o céu fez-se na terra
não existe o perseguidor de abel
nem doentes de guerra
lucidamente estarrecido pelo que virá
no horizonte certamente se projeta
a nave não cairá, amará
e os que não a esperavam
pensaram, que coisa abjeta
esqueletos abraçados
com a vida que tanto amavam.

20 de mar. de 2014

O levante de Gaia

as entropias unidas,
de todo um povo sem dor
as roupas do rei foram roídas
sua coroa jogada no calor
os mortos caíram ao chão
aos pares, aos dez, ao milhão
da guerra foi feito o sangue
do sangue insurreição
e por mais que hoje cantem
a vitória do mais fraco
do cinza claro reinando
sobre o imperioso verde glorioso,
não vai ser honroso
quando caírem por terra
e forem engolidos lentamente
pela última derradeira guerra.

17 de mar. de 2014

Eu tenho uma estrela amarela

Eu tenho uma estrela amarela
dourada vive a brilhar
sonora e quente como o inferno
escondida do mundo moderno
mas com a entropia a irradiar
exterminadora e benfeitora
cura-me do tédio com mesma chama
que se faz pra criar carvão
não me dá nenhuma fama
nenhum prêmio ou ganha-pão
se esconde no fundo dos olhos
nobre sublime fogo perpétuo
pra não transmitir nenhum tipo de poder
aos cabisbaixos e decadentes símbolos
espíritos que não tardam morrer
ferverão na mais ardente fornalha
das milhões de estrelas iguais a minha
que unidas mostrarão ao mundo
o tamanho da fogueira que são capazes de fazer.

12 de mar. de 2014

o vento no mangue

escusas e opulentas razões injustificadas
tem comovente certeza de suas certezas
No chão, no fogo, nas pedras calcinadas
há ilusões, verdadeiras miragens mostram-se ali
fugidas das suas sublimes pobrezas
o límpido paraíso sonham ser aqui.

Entrementes, mentem a si mesmo
escolhe o véu pra cobrir os olhos
incineram despiedosamente os espólios
e vivem a vida caminhando a esmo

E quando teus olhos refletem
no espelho prata pendurado na parede
vês apenas uma miragem
pontos distantes de um olhar de sede

Pois a lama já encobriu tuas razões
a estrutura afundou-se copiosa no lamaçal
a consciência vive a procurar ar
só há os sonhos
livres do barro, a planar.

6 de mar. de 2014

poesia dos grilos que amavam demais o seu exoesquetelo

trouxeram minha rotina
embalada na luz elétrica
deram dois olhos brancos
e uma forma hermética

e remexo e desfaço e amarro
repenso, fabrico repuxo
o que não cai sobe nem desce
diminui quiçá nunca cresce

Meu mundo
meu fundo
meu gelo
armadura de chumbo sem fundo
em nenhuma mortalha
cabe uma fortaleza

espelhos que quebram não refletem
olhos biônicos fitam mas não olham
no óbvio o absurdo se refaz
se nem todo o tesouro se desfaz
pra aqueles que fugiram do motim
não deixem um xelim