26 de mai. de 2014

a cada gole me despeço
de mim que me valia tanto
e desavisado do que sinto
tu, algures vacilante
permeia minha vida, relutante.
mordiscando o aço que m'esconde.

21 de mai. de 2014

quando abrem-se as portas a corrente de vento joga muitas coisas pela janela

ultrajes vestidos em pelo
miragens do verde amarelo
de trago frouxo estrago
seu cabelo todo pro lado
mais nada foi rotulado

só vivo de mim mesmo
não me acho doutro jeito
e no espetáculo que me apresento
o mágico vive sorrindo
enquanto as feras vivem
com os dentes esvaindo.

15 de mai. de 2014

Esqueci de lembrar de pensar todo penso é torto

vou torto de lado, assim meio alquebrado
sinto o faca que empata muita jogata
do lado esquerdo vejo pilastras de luzes
estourando os sucessos com seus obuses

respiro a fumaça queimada do óleo denso
cavalos-vapor não comem grama
não há mais alazão com fama
nem com pinta de revolucionário
napoleão há muito anda de hilux
pra compensar sua baixa estatura
sempre fiel à república
mas vive com a testa enrugada
pelos juros do seguro de vida

horus solitário no limbo
passa seus dias a dançar
rotulado de malvado o dedo foi apontado
não sabem que levantará
e no destino de deglutir deuses
verdes notas engolirá

reto ando batendo nas paredes
sinto o cheiro da vida ao lado
que me olha gritando nos olhos
cantam que não escutas o trinido
a despertar do cômodo sacolejo
caio sempre no corpo que habito
afogado dos prantos não aliviados
onde sirvo pra ser errante
respiro trôpego e vacilante
das favas que muito contei
metade desperdicei

3 de mai. de 2014

planos paralelos

mugidos ávidos por ouvidos
chuvas esperadas pacientemente
quente o dia, os dejetos caídos
Um ermitão sorridente
Saído de sua cavernosa
Toca do mundo ocidental
Achou a luz formosa
E o ninho de cor espectral
Sua mente em estado selvagem
Viu misteriosos chapéis de saturno
que com suavidade ingeriu
E no seu contato noturno
seu ego assutado, partiu
dourado era seu destino
gaia adotou-o em seu seio
Brindou de sua inteligência suprema
agora com deuses e seus problemas
ele ceia toda noite.

1 de mai. de 2014

notícia no jornal de hoje

Sociopatas cantores de ópera foram os mais novos acusados de comerem todos os sanduíches da repartição pública, recém construída do lado do bar da Santa, onde os valores morais e cristãos são muito bem respeitados. Bar que os cantores certamente não frequentam, afinal são sociopatas, preferem tocar flauta na beira de um rio ou de subirem numa árvore dialogar com os joãos-de-barro. Mas, por mais repugno que esse comportamento não usual causa no sentimento retrógrado pré-conceitual negativista dos seres de espécies limítrofes (não coloco a mão de ninguém no fogo pra defender a ideia de serem criaturas da mesma espécie) os cantores costumam serem bons amigos dos coelhos. Talvez por terem idealizado a ideia de basearem sua dieta em cenouras, apesar do coelhos, depois de descobrirem essa espirituosa causa da amizade, gargalharem durante duas semanas, pois gostam muito mais de couve. Parentes distantes contaram que os cantores foram criados num belo vale, seus pais criavam gado e vendiam cogumelos na feira da cidade, e com isso iam levando da maneira mais fluida possível , porém (muitos poréns) havia um problema: Eles não tinham televisão. Por isso eles foram criados soltos pelo belo vale, colendo cogumelos pra ajudar na renda da casa (cogumelos eram bem bastante preciosos na época) e aproveitando o vultuoso rio das redondezas. Mas foi na parte intocável do lugar, num bosque de mata virgem com grandes possibilidade de existirem duendes morando, que os cantores (explicitamente, sim, são irmãos) aprenderam a cantar. E foi uma criatura ressoante que os ensinou, intrépida gralha azul espertamente fez o negócio da sua vida: ensinou os irmãos a virarem irmão cantores a cantar em troca de pinhões. Viveu 10 anos deitada na numa rede com o dobro do peso normal de uma arara azul, mas nesses 10 anos deitada, demonstrou todos os teoremas da musicalidade que poderiam ser feitos numa faixa de pressão habitável ( esses teoremas viram mitos em regiões com a pressão atmosférica muito baixa). E quando os cantores fizeram 18 anos seus pais saíram de casa pra ir morar numa praia deserta, denotando a derradeira necessidade de inventarem suas vidas no que mais sabiam fazer: cantar. Deram tchau à gralha azul e doaram "sua casa" para os duendes. Ao chegar no que os seus pais definiram como vicilização (corruptela tentando ser jocosa com simples trocas de silabas) viram-se perdidos, pois não conheciam as pessoas. Nunca tinham assistido TV, não sabiam dialogar minúcias fúteis por isso foram logo escanteados por todos o que eles tentaram cercar. Obviamente, foi a grande faísca para se tornaram sociopatas e cantores de ópera. Só sabiam conversar romanceadamente, tinham sido alfabetizados com os livros do Victor Hugo, nenhum dos seres transeuntes aguentava os monólogos de meia hora de cada irmão analisando profundamente (e verbalmente) as ideias que perpassavam pelas suas cabeças. E, como a última dupla de cantores de ópera do planeta havia morrido há 3 anos, eles resolveram assumir esse negócio meio falido. A mestre gralha ficou meio triste quando os duendes contaram a situação dos irmãos, mas após pensar um pouco recordou-se que o último hermeto havia milênios que não era visto, e acomodou-se esperar pela morte. Bem na verdade eu duvido que tenham sido os cantores que comeram os sanduíches, pois a acusação era que havia um resquício de salada no 2 molar de cima da direita na boca do irmão que nasceu primeiro, e isso não deveria ser indício de culpabilidade. E por andarem constantemente sorrindo, o bando de policiais oxtensivos (dx=ds)  acharam certamente, para a segurança de todos os carrancudos que os cercavam que deveriam prender o quanto antes esses delinquentes contrários à justa moral demonicrática.