3 de dez. de 2019

só não li tudo isso que escrevi

Eu não leio mais literatura, já tem história demais nesse mundo. A ficção permeia todos os espaços, eu abro esta tela a qual costuma escrever algumas palavras e hoje leio várias histórias por dia. Leio histórias sobre o que disseram os governantes, leio histórias de como eles pretendem resolver suas questões. Leio histórias sobre as coisas que acontecem, as espécies que foram dizimadas, os rios que não servem mais para banhar a cara, sobre rios que não pode tomar banho que entra um peixe no pinto, sobe um rio que tem uma mulher com um rabo de carpa, sobre um cavalo marinho que o macho cuida dos filhotes na sua fase de encubação, sobre as montanhas de plástico nas barrigas dos cetáceos, leio a incrível jornada de pessoas pra buscar cravo atravessando oceanos imensos, e também os que foram buscar o que tinha pro lado de cima ou pro lado de baixo e descobriram gelo e água, e ursos brancos e baleias gigantescas, leio que descobriram que as vezes esquenta e às vezes esfria, descobriram que se queimarmos bastante coisa ao mesmo tempo vai esquentar, descobriram que se colocarmos a carne no sol ou na banha ela se conserva um pouco, descobriram que existe uma filosofal que transforma cobre em ouro e hoje tem várias filosofais , e também leio que acharam um líquido viscoso nos recônditos do planeta e ele é bom de fazer combustão, e sobre a situação dos que buscam água longe de casa, e dos que vivem em lugares que não chove, e também li sobre lugares que choveram quatro anos, onze meses e dois dias, sobre lugares que sairam navegando e sobre lugares que existiam embaixo d'água e agora leio que existem lugares no céu e nas estrelas e li que tem um vivente que quer ir pra marte, li que as formigas podem fazer tuneis kilométricos e que as abelhas dançam umas para as outras, os golfinhos se gritam e conversam e já tem espaçonaves a muito tempo, li também que a gente morre e vai pro ceu, li que a gente não morre, li que a gente morre e volta mas não se lembra, li também que tem gente que morre volta e lembra, e sobre gente que não quer ir, li sobre vários que escolheram ir e li também o que eles deixaram escrito, sobre quantas cargas tem um eletron e quais as multas que algúem irá pagar caso erre de determinado jeito já li, e quando descobriram outro jeito de viver eu li, e tambem li sobre como achar o melhor jeito de viver no lugar que a gente mesmo vive, li que tem bastante gente viciada em bastante coisa, e li que somos grandes mariposas com grandes olhos e li que tem gente acha que a gente tem que cortar as arvores transformar em garimpos pra tirar da terra o que tem dentro do smartphone e dessa tela de computador aqui.

2 comentários:

Nestor Pé-de-Chumbo disse...

Nem eu

Guilherme Buzatto disse...

A diferença entre a literatura e a "realidade", por assim dizer, não é a fantasticidade dos eventos, mas sim a maneira de narrar. O que caracteriza e diferencia o texto literário de outros tipos de texto é o uso da linguagem de uma maneira que foge ao comum e causa estranhamento no meu leitor, seja, por exemplo, pelo uso de uma linguagem "científica", objetiva, direta para narrar eventos fantásticos, seja pelo uso de uma linguagem poética, de um ponto de vista muito particular e subjetivo, para narrar ou descrever coisas absolutamente comuns, ordinárias. É o que você faz (e muito bem, por sinal) aqui nestes teus escritos, que torna a experiência de ler sobre qualquer coisa tão mais interessante, por conter uma parcela do seu próprio ser, por mostrar o universo seja visto ou imaginado, através das lentes que só você mesmo enxerga. Por tudo isso, não importa quantas histórias há no mundo, ou quão loucas elas sejam, sempre vale mais a pena ler a vida por meio da literatura.

Mas pode ser só minha opinião, mesmo. :p