16 de abr. de 2024

Inundação

 Tirando sonoramente o enferrujado das ideias
A poesia eu aniquilei
Enterrei fundo a 7 palmos do chão
Do chão que meus pés pisavam mas não sentiam
Joguei cal, botei pedras tudo pra esconder
O que eu achava que em mim havia de tirar
Era só um espelho que me fazia ver
hoje me leio e me vejo
O presente se faz através do passado que enxergo
E os traumas como retalhos carrego arrastando
sem cenzir, sem coser
o Chão que enterrei parte de minha alma
suja os retalhos de sangue, pó e barro
As vezes me vejo e os lavo
mas a água está turva, desfigurada
O rio que não flui, apodrece
Os prazeres, grandes barreiras
Criam limo nas pedras do meu rio
E quando piso para lavar meus retalhos
Tropeço, deslizo e caio
Na ilusão perdi o caminho
Da límpida fonte do meu ser.

Abro as barragens
A agua flui e me afogo
Retira e leva o que foi enterrado 
Quando o rio baixa
Afogado, encontro o cadáver pálido que enterrei
Está morto e isto é bom
No seu bolso há uma agulha
E ao olhar para as pedras sem limo
E para a água que começa a espelhar 
Não vejo nada do que restava de mim
Além dos retalhos, limpos
E uma linha 
Vou cerzir novamente
Ouvindo as águas do rio que me corre




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