26 de abr. de 2024

Um navio a meio mastro
Corroído pela tempestade
Pelas ondas fortes
Sua vela esburacada
Amarrada a contragosto
Recebe o vento com seus risíveis buracos
Existe um leme, emperrado, enviesado
Segue um caminho indigesto
Em uma circulo infinito
longos rodopios ao redor de um Centro,
mar outrora fértil, Rico pujante, esperançoso
Mas sob calmarias infinitas,
Se findou em tempestade breve, aniquilante
O capitão (dos meus sonhos) está dormente
Extenuado pelo nada que habita em si
A tripulação, outrora cantante, calou-se
Só tem a Própria Água para beber
E bebe consternada e feliz
Pois na pujança de um mar cheio
Esquecia-se, Ilusionada pelas miragens 
Morria da sede de si.

16 de abr. de 2024

Inundação

 Tirando sonoramente o enferrujado das ideias
A poesia eu aniquilei
Enterrei fundo a 7 palmos do chão
Do chão que meus pés pisavam mas não sentiam
Joguei cal, botei pedras tudo pra esconder
O que eu achava que em mim havia de tirar
Era só um espelho que me fazia ver
hoje me leio e me vejo
O presente se faz através do passado que enxergo
E os traumas como retalhos carrego arrastando
sem cenzir, sem coser
o Chão que enterrei parte de minha alma
suja os retalhos de sangue, pó e barro
As vezes me vejo e os lavo
mas a água está turva, desfigurada
O rio que não flui, apodrece
Os prazeres, grandes barreiras
Criam limo nas pedras do meu rio
E quando piso para lavar meus retalhos
Tropeço, deslizo e caio
Na ilusão perdi o caminho
Da límpida fonte do meu ser.

Abro as barragens
A agua flui e me afogo
Retira e leva o que foi enterrado 
Quando o rio baixa
Afogado, encontro o cadáver pálido que enterrei
Está morto e isto é bom
No seu bolso há uma agulha
E ao olhar para as pedras sem limo
E para a água que começa a espelhar 
Não vejo nada do que restava de mim
Além dos retalhos, limpos
E uma linha 
Vou cerzir novamente
Ouvindo as águas do rio que me corre