27 de nov. de 2013

cercas elétricas

leio comprimo
leis ambulantes
ritmos estonteantes
nem me tinha antes
não me tem depois

Grandes paredes grudentas
Grandes placas de pare
Gigantes avisos de feliz natal
Grandes demônios em cima de seus altares
Sorrateiros se escondem
se agigantando.

De um joelho há muito mancas
remando num mar sem peixes
comendo carne de soja
arrotando reforma agrária
pactua-se com a estúpida mentira
sonhando com a verdade
e pra quem diga que tudo é dúbio
eu apresento a liberdade.

Cantigas saem de sua barriga
com um sorriso cheio de dentes
coisa que há muito não é permitida
Bota pra prisão, diz o ladrão
Manda pro manicômio, fala algum louco
Ensine a rezar
e culpe-o por alguma coisa;
decidem os carniceiros.
e seu gado que já ama sua cerca elétrica
geme de alegria.

21 de nov. de 2013

diagólogo

as incríveis mulheres da china
e suas histórias de dormir
aterrorizando pequenos fetos 
esperando ainda na placenta
20 dias sem sol no saara
os fungos já cansaram-se
de tanta umidade.

Queria escrever algo feliz que representasse todo o sorriso para o subnutrido indigente  abraçar seu mundo sem grandes mortes, deitar nessa límpida segurança que nos é oferecido em uma grande bandeja doirada, apenas escambando nosso próprio exemplar, nossa cabeça, nossos braços, nossa mente em troca de uma doce torta de prestígio. A ebulição de nossos seres necessitados de uma continuidade e clamando por uma mudança drástica tornou-se lenta e moral, suas gargalhadas agora devem muito pro desespero. Pesquisas de sondagem tornam-se cada vez mais frequentes, mas a grande guerra continua superficial, a grande estrela queima seu combustível visualizando o fim de leis tão antigas que desdenham em relevância dos pensamentos newtonianos. E o rosto que sorria agora está afogado em lama, pois quando o interior desmorona-se, o desmoronamento ao seu redor pesa-lhe nos ombros, a força necessária pra erguer-los esvai-se, todo o precipício que adentrou no peito enquanto solene e inocente o observava prendeu-se em seu peito e ao ver profundamente, conversa com o fundo que  não vê.

19 de nov. de 2013

sonoros duendes me gritam pelas costas enquanto caminho sossegadamente pela rua

bolhufas de nada giram constantemente sobre o piso quente e negro
olhares vazios em cima de rodas
sentados em grandes sofás
apertando pequenos botões
girando girando girando manivelas

pisando num solo que nada nasce
dito perfeito por ser estéril
as criaturas estão fugindo
escondendo-se dentro de grandes caixas modernas
mortas estão as sementes

vejo o sol pela manhã
zomba de mim por não ter o seu brilho
os gritos inocentes dos pássaros
zombam de mim por não ter sua liberdade
a lua e sua beleza penitente
gargalha dos meus uivos
ao céu estrelado clamo as chagas
libertas do pus, da sujeira e podridão
já rio de mim mesmo
pra não rir em solidão.

12 de nov. de 2013

grande fuga da caverna de platão

cinzeiro cheio de sementes esperando pra nascer
bigornas negras caídas ao lado
grandes poetas revelam sozinhos
profundos e interessantes caminhos
um grande zebedeu machucado
cansado de tanto não entender
grita balbucias entrecortadas
tal qual velhos chapeleiros
viveu demasiadas vidas passadas
e agora reflete solenemente
em seu grande altar marrom

ouça os distantes mugidos
e o que você mesmo diz
desçam dos grandes pedestais
aceitem o heliocentrismo
refutem seu grande pastor
quebre alguma coisa só por quebrar
e não compre outra.
insista pro diabo devolver sua alma
não engula o que lhe faz mal
pare de rezar pro inexorável destino
e faça algo por você
nade contra essa grande correnteza,
e não se esqueça:
esperneie antes de se afogar.

6 de nov. de 2013

borram-se de neve as nuvens do sertão

A fula miranda caiu na ciranda
Quebrou o cangalho, caiu da caranga
Soltou o pirralho pra fugir do perrengue
pulou a fossa derrubou o merengue
roçado o mangue com agente laranja
areias rolando por baixo da luva
terra de casa guardada na canga
ás espremido da manga
mortes contadas, pintadas de chuva
meus mundos inteiros abraçados
pulos em mares verdes agitados
seus olhos marinhos me causam sossego
viva atrás do indefinido apego
Bate as asas com ardor,
seu coração, beija flor.

5 de nov. de 2013

enevoado, sem estrelas

dualidade cortante
o contraste do céu no crepúsculo
o céu ligado com o inferno
coqueiros gigantes que caem
se parecem muito com madeira
mas são água flamejante.
indignações gritantes
reconforto fumacento
o fim do seu tormento
nesse carro, freio abs

quando não passamos de gritos
que estão mais pra sussurros
lamentamos as tenras pitangas
nunca ninguém soltou um grande zurro
mas se pede desculpa por ele.

das lapiseiras que não foram usadas
as provas não preenchidas
não importa pra grandes futuros imperialistas
nunca desistirão até possuírem
sua própria torre de babel
onde poderão gritar suas injúrias
não contra seu deus
mas contra os que lá embaixo perduram

abra bem a boca
solte a língua pra fora
espere pelo grão de açúcar
que o deus rei trará de algum lugar
vai alimentar sua mente pueril
em um sono reconfortante
do qual um dia acordará
enrugado.